03 agosto 2013

Outras Estantes: Os Maias Revisitados - Parte 1

Se assinalam os 125 anos da sua edição(Os Maias) e uma iniciativa Expresso (Eça Agora) veio chamar a atenção para a obra e a efeméride. De facto, o conhecido semanário oferece o romance, em très edições consecutivas, a que se seguirão, em outras três edições, textos de seis escritores atuais que "trazem" Os Maias até 1973- e um sétimo e último volume sairá um estudo, sobre o romance, do reputado especialista queirosiano Carlos Reis.
Feitas duas perguntas aos escritores que trarão o famoso romance até à decada de 70 do século passado, e todos responderam ao inquérito- com exceção de Gonçalo M. Tavares, que se encontra em viagem.
Inquérito (Parte 1)

É um dos seis escritores que irá "continuar" Os Maias, prolongando-o no tempo, de 1887 até 1973, anos da fundação do Expresso, nos termos dos objetivos do projeto "Eça Agora" desse semanário. Pergunta-se:

1. Considera realizável, para citar o projeto, " dar seguimento à narrativa de Os Maias, à altura de Eça? 

José Luís Peixoto:        
Pessoalmente, nunca considerei que esse fosse o desafio proposto. Creio, aliás, que nenhum outro autor que participa neste projeto o tenha entendido assim. Confesso que até me custa entender como é que se pode fazer tal interpretação. Trata-se sim de uma variação a partir do final de Os Maias. Este tipo de variações não são novas. existem há bastante tempo e são muitíssimo comuns em diversas áreas da criação, como a música, as artes plásticas, etc. O facto de se partir de uma determinada obra demonstra o valor que se lhe reconhece e propõe pespetivas, convidando a uma leitura ou releitura. O romance Os Maias, escrito por Eça de Queirós, é um texto fixo, definitivo, que em nada será tocado por este ou qualquer outro exercício que se queira fazer à sua volta.É penoso ter de explicar o óbvio. No entanto, incrivelmente, estes projetos ainda levantam as mais diversas dúvidas, umas mais pertinentes do que outras.

José Eduardo Agualusa         African writer

O desafio que me foi proposto nunca passou por dar continuidade ao romance do Eça, ao menos não o entendi assim.Foi o de criar um conto que remetesse de alguma forma para Os Maias, numa época posterior. Para mim o mais interessante é estar incluído num grupo de escritores com estilos e propostas literárias tão diversas. Os Maias não morreram. O livro continua vivo, porque aquela história ainda nos interessa - e interessa-nos porque trabalha uma série de questões que são universais e intemporais. Vejo este desafio como uma homenagem a esse livro, que, para mim, enquanto escritor foi muitíssimo importante. Acredito que este projeto do Expresso irá levar o livro ainda a mais leitores.

2. Pela sua parte, escreveu ou vai escrever a sua ficção de forma natural, como qualquer outra, ou entende tratar-se de um desafio particularmente difícil, que exigiu ou exige pelo menos "ousadia" para lhe responder? E qual o ângulo ou tom da sua abordagem, se já o tem e se pode saber?
José Luís Peixoto
Os Maias foi um romance muito importante na minha formação. Possivelmente, sem o efeito que essa leitura causou em mim, não teria chegado à escrita literária. Esta relação pessoal com a obra e com o autor fez com que este se tratasse de um desafio que tentei cumprir com especial dedicação. Não me cabe a mim descrever o que escrevi, mas espero que possa transmitir o prazer que tive em privar com algumas das personagens.

José Eduardo Agualusa
Foi um desafio que enfrentei com alegria. Como disse antes a obra do Eça foi importante para mim. É um universo que também já me pertence. Apropriei-me dele, primeiro enquanto leitor- que é o que fazem todos os bons leitores- e depois enquanto escritor, quando decidi utilizar num dos meus romances, Nação Crioula, o Fradique Mendes já não é o de Eça. é natural, contudo, que em toda a minha obra existam marcas que remetam para leitura do Eça. No meu conto tento fazer uma reflexão irónica sobre a questão colonial, vista pelos olhos de outros dois personagem do Eça - Carlos da Maia e João da Ega. De resto, também tratei da mesma questão na Nação Crioula. O período em que decorre a ação do meu conto é particularmente interessante. Trata-se do início da construção do Caminho de Ferro de Benguela, que marca também o início da construção de uma nova cidade, o Lobito, um projeto épico, fantástico, curiosamente ainda não explorado pela ficção angolana. A verdade é que há ali material para um romance. Talvez um dia me tente.

Nota: Um dos princípios para Eça Agora prendeu-se com a cronologia. Cada escritor ficou com vários anos a seu cargo- 12,15 ou mais- iniciando-se a nova história em 1888 (Carlos da Maia tem 37 anos) e prolongando-se até 5 de janeiro de 1973, 


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